CAPA


INTRODUÇÃO

Esta insatisfação com uma realidade que não preenche sua necessidade, faz do escritor criativo um indivíduo “à margem”.

Geralmente ele não consegue se integrar ao meio e torna-se um “marginal”.

Podemos considerar o escritor um “sonhador à plena luz do dia”, partindo da tese de que a pessoa feliz não fantasia, posto que as fantasias são desejos insatisfeitos.




SIGMUND FREUD

APRESENTAÇÃO

Há coisas que sentimos e guardamos para apodrecer conosco. Apodrecer-nos!
O presente livro trata de pensamentos obscuros e sentimentos reprimidos de um eterno depressivo. É um livro sobre aquilo que não conseguimos entender e algo que nos é negado para todo o sempre, ou basicamente, sobre os anseios de alguém que tentou até agora levar uma vida normal, mas não consegue entender porque uma realidade tão absurda é considerada normal.

O “Quintal dos Meus Sonhos”, no título, se refere a todos aqueles sonhos que de alguma forma acabaram influenciando o autor e sua vida tão insignificante, embora cercada de personagens ilustres e mediocremente sociais.




LUCIO VARGAS

MINHA HISTÓRIA

Minha história começa a partir do dia em que me dei conta dela.
Caminhando com colegas e falando bobagens
Era tudo divertido e tranqüilo
Mas não percebi que isso iria passar logo
E quando dei por mim, já estava de forma irracional,
A lutar por um mundo distante, porém recente.

Tudo sempre começa onde termina,
Mas sinto que comecei pelo meio do fim, e
Por isso tenho tentado regredir tanto,
Tentando ser alguém que nunca serei,
Embora já tenha sido.

Minha história não é boa, nem tampouco original,
Mas mesmo assim certas tardes de outubro
Jamais serão substituídas pelos mais ensolarados verões.
Somente aquilo que a gente nunca sabe nos interessa saber.
Lembro de alguns colegas que me acompanhavam na volta da escola
E hoje devem exercer as mais diferentes profissões
Que nem imagino,
Mas gostaria de saber,
De alguns!

Se todos os meus pensamentos fossem traduzidos
Quantos bichos sem cabeça?
Quantas perguntas sem resposta?
E aquele beijo que não dei?O beijo?!
Aquele beijo não dado será até o fim dos meus dias
O meu beijo mais importante
Pois certamente será o único a me acompanhar até a hora derradeira.
Hoje nada que eu faça
Vai recompensar aquilo que não fiz.
Aquilo é único!
O resto se soma!
Mesmo assim, acredito que uma chance hoje,
De fazer aquilo que não fiz antes
É um erro do tipo:
Tipo de época,
Tipo de pessoas,
Pois eu e a garota do beijo não existimos mais.

NADA MAIS IMPORTA

Sou um furacão à atravessar as ruas
Para cada amor que não tive,
E mulher que não amei,
Uma lágrima surge em meu orgasmo.
Sem amigos,
Sem aplausos,
Vou!
Vou!
Sem destino, guiado apenas pelo vazio, eu vou!
A chuva afasta os transeuntes e sobra eu,
Eu e o vento!
A ira se transforma em notas musicais
E a dó em versos.
Quem os canta está apenas representando meus sentimentos.
Caras pálidas em frente a escolas e festas
Flertam o belo
E o feio que passa, despercebido,
Flutua no ar em tranqüilo desespero.
Cada vez mais as pessoas parecem querer ter e adquirir
Se prendendo mais e mais a bens
E nisto tudo chego a conclusão que o grande lance
É não estar preso a nada.
Não tenho nada!
Não devo nada!
Sou livre,
Apesar da escravidão!
O mundo segue seu rumo,
E eu o meu!
Não adianta chorar,
Não adianta berrar,
Ninguém vai te ver.
Ninguém se importa!
O mundo é cruel com quem se importa com ele,
Mas não fique assim,
Vamos tomar outra!

PENSAMENTOS

Enquanto eu conseguir me emocionar com as coisas (sofrer) saberei que estou vivo!

Olhar para uma foto que não posso tocar é sofrer e acordar para vida ao mesmo tempo. Pois esse platonismo todo me dá forças para escrever aquilo que me torna mais célebre, embora os que me lêem, e me admiram não saibam que sou muito feliz com minha infelicidade, já sabendo que viver é sofrer a todo instante por alguém com intensidade profunda.

E pensar que você só saberá de mim depois que já não houver mais chance. Tudo bem! Aquele dia você ainda não me conhecia, e eu também não tenho culpa das coisas que sinto. Amar você foi um acaso.

Estou te amando desde ontem e hoje já acordei perdido. Legal! Sei lá, tanto faz agora o que eu faço. Você é uma grande amiga e esse sofrimento é só meu. Encontro nele um prazer perverso onde a dor me eleva a um ser criador, chamado artista, mas na verdade sei que sou triste e auto-destruição acompanha prazer. Foda-se!

Transar com várias parece muito legal e coisa de garanhão! Agora, nada me deixa mais vivo do que chorar nos ombros de uma mulher. De preferência que ela me ouça.

Tenho já essa idade e sou tão triste! Tão ingênuo! Tão chorão! Uma garotinha bonita de 13 anos é mais forte que eu! Não chora como eu! Como fazer para agir sem coração? Choro sozinho! Me sinto bem com minha infelicidade e sei que meus pensamentos sempre acabam chocando alguém embora eu continue insatisfeito.

Você está em meu coração e nem sabe. Todos os dias conversamos e você não sabe que te amo. Não precisa saber! Esse sentimento é só meu! Você se sente tão só e admira o que escrevo, mas não sabe que é por você e bebo e para dar vazão aos sentimentos. Se descobrir eu nego tudo, melhor assim! Aprendi a não dividir meus sentimentos e sofrer sozinho. Chorar sozinho. Você é tudo, mas não pode fazer nada, por mim.

NINGUÉM É CERTO O SUFICIENTE PARA SER LOUCO

Ninguém me ouve!
Ninguém me vê, me lê!
E quando tentam, sentem pena:
“Pobre homem enlouquecido!”!
Porque as pessoas não vivem?
Não gozam?
Explodir o mundo deve ser mais fácil
Do que viver, é o que concluo.
Por que amar é tão ridicularizado
E todos só querem
Foder,
Foder,
Foder,
A própria vida?
Às vezes preciso me fazer de certo
Para continuar sendo louco
Mas ainda não sou louco o suficiente
Para me animar a viver,
Embora a maioria não se atreva nem a pensar.
Dentre todos os meus defeitos
Nos quais se destaca minha feiúra,
Terrível voz e forma como sou desajeitado,
O que mais me agrada
É o fato de ser louco
E não um desses certos que andam por aí!

UMA CERTA MANHÃ

Às vezes penso, é claro que penso!
Eu lembro!
Deixe-me garota,
O dia em que perdi minha chance nunca voltará.
Outras vieram,
Insignificantes,
Partiram logo.
Seu lugar foi então um dia preenchido,
Por ninguém.
Um coração acostumado a sofrer
Se adaptou ao vazio.
Que bom que voltou,
Está diferente, sua vida foi diferente,
Do que pensei.
Sabe, te vendo hoje,
Sinto menos triste,
Vendo o que não perdi,
E decididamente, desista garota,
Aqueles dois não existem mais,
Aliás, quem é você mesma?

ÀS VEZES

Às vezes me sinto vivo
Às vezes me sinto vazio
Quando estou preso ao chão, me arrasto
Quando estou livre, vôo.

Pelo ar, ando na terra.
Na terra, me vou às nuvens
Se penso reflito, e me aflito
Caio em mim e me sinto, sinistro.

Se vivo estou, chato sou
Se já sei que sou assim
Que pensar de mim?

EU ODEIO ESTA CIDADE!

Detesto esta cidade!
Eu odeio esta cidade!
Mas não posso ficar sem ela!
Posso até deixa-la para trás,
Mas sempre volto,
Quando possível.
Em períodos aleatórios e intercalados,
Eu volto à cidade maldita
Onde suas luzes noturnas
Me remetem a um adolescente hermético e invisível,
Que vagava por suas ruas
Espantado com um inimigo, cuja face,
Nunca descobrira, e que
Assolava a sua condição de morador daquela terra.
Curiosamente, ele nunca, nem mesmo hoje,
Descobriu, que aquele tão eficiente inimigo,
Que arruinou todos os seus planos e
Sempre se impôs para destruí-lo,
Era ele mesmo.
Embora, tendo passado tanto tempo,
E ele nunca tendo se descoberto,
Foi percebendo com o tempo,
Que a cidade não era tão maldita assim.
Percebeu ainda, que suas notórias infelicidades
Foram frutos dos momentos
De insanidade que não teve,
Quando escolheu bancar o tipo “correto”.
Conseqüentemente, se descobriu!
Foi assim que, subitamente, ele enlouqueceu,
E hoje, vive feliz!

A SEGUNDA JORNADA

Estou de novo a caminho.
Do meu quarto vejo o mundo.
A roseira que me acolhe, me liberta!
Agora que ninguém pode me ver,
Me vêem!
Revisito os lugares que nunca passei
E descubro o tudo o que não perdi.
Vendo os que choraram
Percebo quais existiram
E do tudo que sei,
Nada mais sei.
Meu corpo, nunca antes observado,
Já não existe mais,
Mas e esse corpo em que me vejo agora?
Embora transparente, suas formas me agradam.
Devo seguir meu caminho
Rumo a segunda jornada!

GEMIDOS DE INVERNO

Ela o fita com comiseração.
Já tentou ajuda-lo, mas foi em vão.
De forma laboriosa, labutou para
Trazê-lo a esse mundo, mas é inútil,
Seu coração distante, é singular.

Ele, a olhar a chuva,
Acompanha uma folha de abacateiro,
Que segue valeta abaixo,
Pensativo, deixa claro, gostaria de ser como ela,
Que veleja sem rumo.

Ambos se amam, e sabem disso,
Embora se entendam bem,
Ela não compreende, não entende,
Seu jeito de ser, assim,
Tão triste contente.

O dia passa, a chuva vai,
É inverno lá fora,
E tão bom, tão quente, aqui dentro,
Enquanto o silêncio é quebrado
Por gemidos de amor.

NATAL

É véspera de natal.
A casa, em outras épocas tão vazia, se encontra agora lotada de parentes, vindos de longe, a maioria da capital.
A família conversa, toma mate e conta causos.
O garoto olha tudo e todos com certa distância e resguardo.
O clima é de festa e contentamento, mas de vez em quando:
_ Bah! Mas esse guri é desajeitado!
Fala alguém referindo-se a ele.
Admira a família, mas tem grande receio de envolver-se com ela.
À noite todos cantam e dançam músicas típicas da época, porém ele ruma para um canto escuro no pátio, onde só se enxerga a lua e as estrelas. Acompanhado de um pequeno rádio, ouvindo Renato Russo, ele viaja através da música, enquanto se despedaça lentamente, quando é surpreendido por aquele que é seu maior ídolo, e também aquele que mais o humilhou em frente a outras pessoas, seu padrinho.
_ Vamos lá pra dentro! O ambiente lá ta bom!
Convida o homem.
O garoto faz apenas um sinal com a cabeça indicando que não.
Percebendo que a situação é mais grave, o padrinho, um homem maduro e bem vivido, bem resolvido financeiramente e amorosamente, resolve sentar-se ao lado do garoto e começa a contar histórias para tentar levantar sua auto-estima.
Depois de muito tentar, o homem consegue levar o garoto para dentro da festa e mudar-lhe a expressão.
E sabem o que ele usou para convencê-lo?
Nada de mais!
Apenas contou sua história.
Por mais incrível que fosse, ele também sofria, também tinha aflições e dúvidas existenciais, porém, nunca havia contado isso para ninguém, pois descobriu ser melhor fingir falsos sorrisos, até os verdadeiros aparecerem.

QUINTAL DOS MEUS SONHOS

Solitário, um menino excluído brincaNo fundo do quintal com uma rodinha nas mãos. Parece estar dirigindo, mas tão concentrado... "Esse menino, não joga bola,
Não brinca com os outros,
Não se aproxima de meninas...
Não sei o que vai ser dele!" _ fala a mãe, solteira, do garoto.Aliás, a família comenta o estranho jeito de ser do menino.O tempo vai passando e ele continua isolado,
Mas substitui a rodinha por um papel e uma caneta. Quantas fantasias e viagens fantásticas ele teve naquelas tardes de solidão?Os melhores sonhos, são os que sonhamos acordados,
E são esse que ele, agora já adulto, publica em jornais e revistas.Agora que ficou conhecido de todos,
Deixou de ser desconhecido pela família.

O ROMPER DO SILÊNCIO

Ela foi embora e me deixou.
Em casa, à noite, apago todas as luzes
E vou dormir.
Pensamentos vem e vão, involuntariamente.
A falta de barulhos, ausência de estrondos
Causados pelo pequeno,
O silêncio grita!

“Pin, pin”, faz a torneira.
Cada parte da casa parece colaborar
Com minha insônia.
Ouço vozes e decido vasculhar a casa
É quando me flagro,
Falando comigo mesmo.

O PALCO DOS CANASTRÕES

As pessoas comuns também são atores,
Só que aprenderam a interpretar
Um único papel.

HUMANIDADE

Ela era tão jovem.
É tão difícil de entender!

Sua pele tenra e rosto meigo...
Um revólver é alijar tudo o que belo!
Espevitada, a família, e os conhecidos,
Desconheciam
O motivo de seu coração hermético, ao ataúde.
Aliciava alguns, mas enigmática, e pragmática,
Alimentava a consternação que a levou.

Moça da chuva, como alguns a chamavam,
Atravessava as cinzas do tempo, sobrevivendo,
À vida.
Sua ode interna, manifestava-se em gestos,
Que até seu fim ilustrou.

Passados alguns dias, todos voltam a viver.
Terminada a argüição
Muitos sabem, que nada sabem,
E aquela que conheceram,
Nunca conheceram, mas gostariam
De ter conhecido.

INÚTIL

Essa mulher que se aproxima
Toda tempo, noite e dia
Me amola e me chateia
Depois ri e me anima.

Certo dia ela falou
Que eu sou um cara especial
Com a lua na cabeça
Torno o céu um carnaval.

Eu sou louco e depressivo
Mas às vezes dou risadas
Solitário pelas ruas
Eu rejeito as calçadas.

Com os mendigos e os sem-teto
Eu vago pelo mundo
Uns me chamam de poeta
Outros apenas vagabundo.

SOU FRACO!

Por quê você me deu, e me tirou?
Me fez assim?
Dormiu em meus braços
E nem me olha?
Isso foi ontem!
Difícil entender,
Difícil aceitar,
Não quero mais, não mais.
Tentei ter garotas
Nunca tive garotas
Elas passaram por mim!
Não toque em mim, não chegue perto,
Ou posso amá-la para sempre!
Sou fraco, sei disso,
E tenho muito medo!

SEM CHANCE

É uma rebeldia, uma covardia,
Não ser amado!
A rua está fria, mas tudo bem!
Dormir na rua, acordar sozinho, tudo bem!
Não quer mais me ver, tudo bem!
Ainda há motivos para tentar?
Suicídio é um caminho natural para mim.
Viver por viver, sobreviver,
Sem chance!
É, às vezes parece que
A única maneira de sobreviver à vida
É a base de drogas, muito álcool
E rock n´roll.

SEM VOCÊ

Em uma cidade estranha,
Num banco de rodoviária,
A tudo observo:
Ônibus que chega e sai,
Rostos indiferentes...
A cidade parece bela vista aqui do cume.
Olho para o céu e me encho de ar, é bom!
Mas algo me falta: você não está aqui!
As horas passam, os pensamentos fluem,
E meu ônibus não chega.
Nem ele, nem você!
Então me convenço:
Vou ter de te perder,
Até a hora de te encontrar!

SEM AUTO-ESTIMA

Uma vez durante um carnaval, eu havia entrado para um bloco novo, que estava fazendo o maior sucesso. O bloco, só de homens, era constituído de jovens bonitos e estudiosos..
Em uma noite, quando eu entrava no salão, uma moça muito bonita e esfuziante, me deteve no caminho e me disse:
_ O bloco de vocês é o melhor e a camiseta a mais bonita, mas tu é o único feio!
Rahhhh! Uma coisa assim acaba completamente com alguém que já não tem auto-estima.
Então devido a esse, e outros incidentes semelhantes, que foram ocorrendo interminavelmente em minha vida, eu comecei a escrever para me libertar, de tamanha opressão que eu sentia.
Hoje, embora eu ainda não seja bom em discussões, já consigo me defender com a palavra, escrita.

O APERTADOR DE PARAFUSOS

Todos os dias em seu trabalho,
Ele põe o parafuso.
Na correria, e gritaria,
Ele aperta o parafuso.
“- Vamos lá, tá devagar!”,
Berram os supervisores.
Todo tempo lá na fábrica,
Ele dá graças a Deus,
De poder estar trabalhando,
De apertador de parafusos.
Seu serviço é maçante,
E a mente dominada,
Mas o leitinho das crianças,
Compensa sua jornada.
“- A lua já tá alta e preciso ir embora”.
Sem jaleco e chave de fenda,
Larga tudo sem demora
A rua famigerada,
Fomenta sua liberdade,
Nu no espaço ele delira,
Pela noite enluarada.

A HORA DE PARTIR

João Felipe, embora estranho, era um cara legal,
Por isso ninguém entendeu.
Na tebalda, sempre chamava a atenção,
Mesmo fugidio.
Noite de lua, junto ao frio e seu café,
Solitário na varanda, dedilhava um violão.
Numa mão, uma caneta a riscar um pequeno papel,
Na outra o violão, mas na cabeça,
O que será que tinha?
Costumava chegar rindo, mas ao se declarar,
Contíguo ao violão,
Todos rumavam aos prantos. Algo tomava conta.
Todos se esforçavam inutilmente para entendê-lo,
No entanto,
Ele parecia entender a todos.
Naquele dia fatídico, estava alegre.
Cantou para todos, como sempre, e se resguardou.
Porém, ninguém imaginou que aquele momento
Iria marcar sua despedida.
No dia seguinte, em seu velório, todos comentavam
Sobre o tiro certeiro, e o produtor musical,
Que teria aparecido horas após sua morte,
Ignorando o ocorrido,
Para tentar um grande contrato.
Um rapaz com futuro como ele, foi vítima
Do violento processo e opressão humana
Que ocorre com os menos acolhidos,
E seu espírito livre, sentiu necessidade de divagar.

SAGAZ

Um pintor,
Que se julga realmente perspicaz,
Não deveria pintar as pessoas como elas são,
Nos mínimos defeitos,
E sim como elas gostariam de ser.

À NOITE

Esta noite senti medo e pensei em você.
Pensei em mim, em nós dois, e tive mais medo.
Parece a cada dia crescer a distância entre eu e eu mesmo.
À noite, labirinto de aflições, me acolhe com estranha frieza.
Vejo fantasmas, vultos, e acordo assombrado.
A madrugada se arrasta lentamente, e eu com pesar,
Pela casa procuro em todos os cantos, até encontrar,
E o que vejo me assusta:
Vejo você nos braços de outro, um jovem sorridente e altivo,
Robusto e valente,
Tranqüilo e feliz,
E que era eu!
Desolado, volto para a cama, onde a morte
Me procura fleumática,
Me bulina, me azucrina e me abandona,
Quando o sol vem!

PERDIDO NO ESPAÇO

Mais um dia, ou menos um dia,
E a vida continua triste,
Para mim!
Vejo um presente sem surpresas,
Um futuro improvável,
E um passado que não passa!

Lágrimas dançam, ou rolam,
Acompanhando meu descompassado coração
Enquanto a noite gelada
Envolve minha alma
E o corpo que não tenho.

Penso em tudo o que deveria fazer
E volto a não fazer nada!

ELE QUER SER HUMANO

Estou sozinho, não consigo carinho,
Não consigo pessoas.
As pessoas me mentem, se afastam.
Sempre sozinho, totalmente sozinho.
Já quis mulheres, já quis garotas,
Queria sexo.
Não era sexo!
Ainda quero mulheres, ainda quero garotas,
Me adorem, me achem legal,
E digam algo a respeito,
O impossível é bem melhor!

DESCRIÇÃO DE UMA MULHER

I

Eu desejo uma mulher
Que me acolha e faça bem
Todo tempo, toda hora
Ela me chama de meu bem.

Moça meiga e delicada
Inconfundível pela rua
Toda noite eu me deito
E ela chega sempre nua.

Sou feliz nos braços dela
Não preciso de mais nada
Todo dia nós passeamos
Sempre junto de mãos dadas.


II

Ela tem cabelos longos
Muito pretos e cacheados
Mas é nos seus peitos fartos
Que estou mesmo vidrado.

Essa moça caridosa
Tem um jeito de moleca
Se fazendo de dengosa
Me dá um beijo e me sapeca.

Eu me esfolo em seu corpo
Depois caio no profundo
Longe dela, de outro modo
Não existe outro mundo.


III

Nosso amor é infinito
Mas não vai durar pra sempre
Mesmo que um dia um parta
O outro lembrará contente.

A minha gatinha querida
Me deu asas pra voar
Hoje eu não sou ninguém
Pelos cantos a chorar.

Mas que destino cruel
Esse que Deus me deu
Hoje eu continuo vivo
Mas o meu amor morreu.

SENTIMENTOS INDESEJÁVEIS

Era um cara absurdo,
Achava que ninguém tinha defeitos,
Só ele!
A forma como se cobrava, e se julgava,
Era implacável.
Ta certo que julgar a si mesmo é fácil,
Julgar os outros, mais fácil,
Mas que tal não julgar ninguém?
Um passado sempre a cobrar um presente
Deixa claro que jamais haverá um futuro
Para ele!
O passado já passou, e a conta já foi paga,
Ou será que ele pensa que essa conta é impagável?
Se assim ele continuar pensando,
Pagará com a própria vida.

MINHA MENTE TÃO TOLA

Explodem bombas do outro lado do mundo
Enquanto meus olhos passeiam
Pelas noites tumultuadas de uma metrópole gaúcha
Onde ninguém é de ninguém
E ninguém se respeita.
A cada hora, cada minuto,
Alguém é roubado, um menino é esfaqueado,
E minha mente tão tola,
Só se preocupa com as coisas do coração.
O brilho falso das estrelas da rua
Incendeia a parte romântica que não tenho
E a sensibilidade que procuro
Só se manifesta no último minuto.
O mundo lá fora é muito bonito,
Pelo menos quando é visto daqui,
Dessas cabecinhas lacradas,
Que não captam nem as ondas globalizadas.
Agora que estou no interior, e no escuro,
Aprendi a conviver com a solidão de fato,
Antes era apenas em minha mente.
Acho que vou dar um grito...
Quero dar um grito...
Mas não adianta, ninguém vai me ouvir!
Essa que aí vai passando,
Tão alegre e contente,
Como ela consegue?
“Oh, psiu! Vem cá!”
É que eu quero saber o que há com ela, como ela consegue.
Se você não entendeu, não posso te explicar,
Já ficou no ar.
Porque um bem-humorado sorridente e à vontade é tão invejante
E um engravatado contando dinheiro é tão cafona?

ARGÜIÇÃO IMPRETERÍVEL

Estamos na era do descartável
Hoje tudo é descartável
O sexo, o amor e as amizades o são!
Muitos lutaram para atingir esse famigerado
Grau de facilidade
Pois assim poderiam gozar mais
Porém, a vida também tornou-se descartável.
Deixaram de cultivar as verdadeiras amizades
Os grandes amores e as maiores aventuras
Para cultuar os pequenos negócios,
As efêmeras ficadas
E os corriqueiros esquemas.
O corpo, já sem a canícula de outrora,
Cede ao ostracismo,
E solidão é o que se sente
Quando o sexo passa.
Caminhamos em direção a um abismo
Onde ninguém se entende,
Procurando uma solução cuja resposta
Já sabemos
E alguém para conversarmos quando
Nos deparamos com nós mesmos,
Um vulto que, atônito, pergunta:
“Quem sois vós?”
A voz que vem de longe
Não encontra uma resposta aqui
Pois quem aqui está
Já não tem força suficiente para
Se debater consigo mesmo, acabando então,
Sempre se debatendo com os outros.
Assim seguimos vagando pelo mundo,
Sempre em direção contrária
Ao nosso verdadeiro eu.

O HOMEM QUE FALA

I

Muitos falam
E pouco se aproveita.
Muitos ouvem
E nada entendem.
Sou o que fala
E ouvem.
Minhas palavras chocam, sempre.
Os que não entendem, por isso.
Os que entendem, pelo mesmo.
Me criticam por falar coisas,
Coisas que todos gostariam de dizer,
Mas falta coragem.
Também já me faltou coragem.
Porém hoje vejo:
Quem não fala, nunca será punido
Por suas palavras.
E também, jamais irá tomar parte no mundo.

II

Homens como eu, indagam o mundo,
Dizem o que pensam,
Lutam por todos,
E acabam expulsos,
Antes do final do primeiro tempo.

FRENESI

Vamos comprar! Consumir!
Invadir e ensacolar!
Gastar em lojas e voltar!
Assistir tv e se entupir!
Se nutrir para poder olhar, e ver,
Que o mundo é belo e saboroso
Como um imenso e enfeitado bolo,
Mas que quando acaba, acaba também a festa,
E sobra o vazio!
Compramos o mundo como quem compra balas:
À varejo.
Não o levamos, porque ele nos leva antes.

DE REPENTE

De repente o homem olhou para dentro de si
Viu que quando estava triste ficava contente
Quando fracassava produzia
Então de repente, repentinamente
Da angústia surgiu a esperança
Na solidão ele teve a idéia
Contou pra um que falou ao mundo
De seu rosto triste brotou um sorriso
Fez-se conhecido quem ninguém conhecia
Mas que fatalmente perdeu a vida.

Então de repente, bem de repente
Aquele que por toda a vida esteve morto
Agora que morto, viverá eternamente.

A GRAÇA

Há por aí meninas tão inocentes
Que fulminam meu coração com sua graça.
Graça essa, que por minha fraqueza,
Se torna minha desgraça.
Eu, do meu jeito, calado e com medo,
Me deito a esperar
E a espera não termina, e o oposto acontece,
Quem esperou está terminado!

O ANTI-SOCIAL

Nunca fui muito chegado com a família
Aquela coisa de abraços, beijos,
Sempre tive um pouco de vergonha e medo diante de parentes.
Primeiro, porque me sentia muito inferior e
Segundo, devido ao receio de cometer alguma gafe
Virando assim motivo de risos.
Quando estavam todos juntos,
Em alguma festa exclusivamente familiar,
Sentia-me como um “bicão” invadindo uma festa qualquer.
Sempre me desviando,
Quando na verdade o que eu mais queria era ser o centro das atenções,
Um dia me isolei completamente
E dediquei-me a escrever.
Hoje eu não pretendo mais ser o centro,
Mas consegui bastante atenção!

JOVENZINHA

Uma jovenzinha fagueira
Caminha pela rua
Toda meiga, um sorriso angelical.
Seus cabelos a voar
Descobrindo belos ombros
Deixa um rastro onde passa
Velho, moço
Menino, jovem
Fica tudo em escombros.

Passa menininha, passa!

Ela passa e me arrasa!
Me sinto sem proteção.
Angústia e solidãoTristeza e depressão
É o que sinto, não minto

Passa menininha, passa!

Como pode uma jovenzinha como ela
Despertar tais sentimentos,
tal tormento,
Diante do meu lamento?

COM AMOR

Te vi e te peguei,
Sorri e te beijei,
Então passeamos!

Foi bom,
Me diverti,
Então voltamos!
E te amei,
Te amei,
Te amei...
Até adormecer,
Te amando!

NO AR

Sonhei...
... sonhei que voava!
A multidão a pé
E eu no ar!
Não queria saber de mais nada,
Só andar,
No ar!
Não havia carro nem avião,
Só a multidão e eu,
No ar!
Mas amanheceu e acordei,
No chão!

SONHEI COM VOCÊ

Te levei no parque
Comprei algodão doce pra ti
Um refri
E te beijei.

Estava alegre como nunca
E divertido
Mesmo assim
Chorei.

Escureceu
E a lua surgiu
Fomos embora
E você partiu.

Depois de tudo
Acordei
Voltei à realidade
Sempre só e sem você.

NA ESCOLA

Na escola nuca fui o tipo do cara que as meninas olham quando passa, ou os garotos comentam algo a respeito. Acho que sempre fui assim, meio maldito.
Mas um dia, cansado de apanhar e ainda viver o malvado, resolvi me dedicar ao estudo e expandir minha imaginação com toda a criatividade que pude explorar. Tendo estudado muito, acabei me tornando um intelectual com a vida estabilizada e um relativo sucesso.
Agora, caminhando pelas mesmas ruas de antigamente, percebo que mesmo com a vida que levo hoje, o moleque de outrora não se dá por vencido, e ainda segue fazendo um burburinho.

A RESPOSTA

Outro dia assisti ao filme ELEFANTE, aquele filme verídico em que dois jovens nos Estados Unidos entram em uma escola armados com fuzis e pistolas atirando em todo mundo e depois se matam.
Me lembro que na época, esse fato foi muito comentado no mundo todo, mas até hoje, nunca vi ninguém perguntar o que os levou a fazer isso, e é essa lacuna que o filme, após longa pesquisa do diretor, tenta responder.
Vendo o filme, sentimos um pouco de pena dos dois homicidas. Ninguém sabe o que eles sofreram até chegar aquela decisão trágica, não que eu esteja concordando com o que eles decidiram, mas tentando entender vejo o quanto eles eram mal tratados pela sociedade e isso me ajuda a compreender um pouquinho mais.
Eles eram jovens, deprimidos, excluídos, e sempre à margem, embora ricos.
A sociedade atual é muito preocupada com o próprio umbigo para ver que alguém ao lado às vezes está quase se matando de tanta tristeza e só precisa de um pouquinho de atenção, carinho.
Não posso esquecer de dizer, que embora ambos tivessem entre 17 e 18 anos, eram virgens e nunca tinham ficado com ninguém. Nenhum beijinho?!
Será utopia esperar que um dia a sociedade, cada vez mais competitiva e desumana, se preocupe menos em classificar pessoas e dê um pouquinho de atenção a esses jovens?
Que uma garota bonita um dia chegue e pergunte: “Você tá legal?”
Ou será melhor esperar outra tragédia?

AS REGRAS DO JOGO

É comum nos dias de hoje ouvirmos pessoas comentarem que não tiveram sorte na vida, ou que a vida não foi boa com elas, e quando vamos investigar essa tragédia pessoal descobrimos que a pessoa teve mais oportunidades que a Gisele Bündchen e não aproveitou por comodismo ou achar que merecia um pouco mais.
Nada me deixa mais puto!
É claro, que para algumas pessoas o cavalo encilhado passa dez vezes e para outras apenas duas, mas sempre passa! O único caso que considero perdoável é aquele que envolve uma fatalidade, mas aí é um caso à parte, e não é disso que estou falando.
O que quero dizer é que também já perdi muitas oportunidades mas hoje tenho aproveitado todas que aparecem, depois que descobri que sou eu quem dou as cartas.

CONFORMISMO

Não podemos suportar o conformismo!
Conheço uma mulher de uns quarenta anos,
Que seguidamente declara:
“ – Meu sonho era conhecer a Bahia, mas
Quando eu morrer vou conhecer.”
Eu digo que é bobagem! Ela nunca
Vai conhecer droga nenhuma!
Só diz isso para se conformar que
Embora não tenha realizado o sonho em vida
Ao morrer irá realizá-lo.
Como no caso dela, há muitos em que
As pessoas passam uma vida inteira
Desorganizada,
Sem direções, fazem uma filharada e depois
Ao olharem em torno de si, percebem
Que não conseguiram realizar um único desejo.
Não faça isso consigo mesmo.
Se deseja tanto, vá hoje, agora!

LUGARZINHO

Preciso de liberdade!
Quero sofrer sozinho!
Chorar sozinho!
Não ligue pra mim!

A dor me conduz
A um estágio final
E as coisas que penso
Me libertam!
O mundo é frio,
As pessoas são mesquinhas,
Mas no meu cantinho tudo é bom!
Daqui vejo a lua e as estrelas,
Um universo de luzes e cores...
Tudo dança, tudo voa,
E no final
Vejo você!

SOLIDÃO

A solidão me devora e fere os meus sentimentos.
Sem o meu consentimento!
Pior que a angústia de quem ama,
A de quem ama sem amar!

Quando ela disse não
Fez-se névoa em meu luar
A noite enluarada
Presenciou o meu pesar!

PASSOU

Havia um tempo em que eu era lindo
Menos por beleza que por estar sempre sorrindo
Vivia só de gracejos
Cortejando belas moças
Hoje só dou bocejos
Passo o tempo abrindo a boca.

Minha tia que me acolhe
Faz de tudo e me ajuda
Até não deixa que molhe
Quando a noite cai a chuva.

Outro dia, dia desses,
Me lembrei de um grande amor,
Que durou durante meses
A calmar a mina dor.

À MÁRIO O QUE É DE MÁRIO

Um velhinho magro e alto
Para e entra em um bar
Solitário acompanhado
De um cigarro a fumar.

Cafezinho traz seu moço
Pede ele ao rapaz
Um poeminha vai escrevendo
Delirando a divagar.

O instante vai passando
E as horas para trás
O poeminha ta crescendo
E já tem asas pra voar.

O coisinha complicada
Essa aflição que dá na gente
Com a família e os amigos
Ainda assim estou carente.

O velhinho escreveu
Tomou café e se mandou
Está sozinho nesse mundo
Mas o mundo conquistou.

ESSA REAÇÃO

Pensei que agora sozinho conseguiria
O que não consegui
Estando com você
Porém hoje percebo
Que meu caminho será sempre tortuoso.
É o preço
Por não se enquadrar em uma sociedade
Rotulada e definida.

Ouço esse cara,
Que berra em desespero,
E me dá uma reação...

Já é tarde, estou sozinho, perdido,
Não olhe pra trás,
Não pense em mim,
Mas volte,
Se você quiser!

VIVER E DIVAGAR

Escorado em uma árvore
O poeta olha o campo
Nostalgia e angústia
Vai sentindo ele aos prantos.

Precisamos de carinho
Pra vencermos nessa vida
Quem não vence honestamente
Sua vida não tem trunfo.

Que saudades que ele sente
Dessas coisas que não fez
Passou-se sua vida inteira
Em bem menos de um mês.

Hoje em dia ele é poeta
Passa os dias escrevendo
Alguns acham que é besteira
Outros lêem seus pensamentos.

Mas coitado do rapaz
Vai ter vida após a morte
Já que vivo ele morreu
Antes mesmo de ter sorte
E agora que se encerra
O ganido que já berra
De um homem que viveu
Morte e vida tudo em “eu”.

O FRIO POR TRÁS DO CALOR

Ele sentia
Sua vida morria
Sua dor e agonia
Ignorada por todos.

Sua cabeça agitada
Pelo rock agressivo
Pelas pessoas agressivas
De cabeças vazias.

Na cidade ilegal
As pessoas tão frias
Sustentavam um aviso
Subversivos ousados
Abandonavam suas vidas.

Um engomadinho a rigor
Enrabava a todos
E com sinistro louvor
Conservava sutilmente
O seu baile de máscaras.

Aquele ingênuo errante
Que por ali apareceu
Para começar sua monarquia implícita
Se tornou o óbice perfeito
Para torná-lo um herói
Quando o falso propósito se posicionou
A seu favor,
Foi o que aconteceu e
A vida segue como vem sendo
Há anos.

O MUNDO

Tudo aquilo que me disse
Incendiou a cidade
E rostos indiferentes
Me consomem no fundo.
O caminho é de drogas
Para um coração apaixonado
A vagar
Nos cantos e subúrbios escuros
De uma vida sem rumo
O meu mundo é o mundo
Que não tenho contigo!
E no abrigo de um peito imundo
Sobra um pouco mais
Que um pouco de pensamentos obscuros
A cegar tudo o que penso,
Por você!

Que mistério pode levar
Alguém a atravessar
Um coração obscuro
Com objetos que deveriam
Ser banidos do mundo?

O desejo de amar
Me fez não amar
Mais ninguém
E desse jeito
O meu desamor
Gerou o ódio que tive
Para destruir o maldito mundo.

Então, você que era o meu mundo
Hoje me deixa,
Leva consigo o meu rumo
Enquanto eu volto,
Em definitivo,
Para o meu canto escuro.

ENCENAÇÃO INÚTIL

Sempre excluído,
Ignorado,
Ainda estou só!
Tentei ter alguém,
Tentei ser alguém,
Pra você!
Hoje não procuro mais,
Nada disso,
Sou o que sou
E não mais
Um personagem social!

O PRESO

O preso que olha a rua
Sente a falta de um amor
Liberdade ele queria
Para aliviar toda essa dor.

Aqui dentro é só maldade
O pessoal não tem paixão
Da família tem saudades
Mas destino é só o caixão.

Certo dia chegará
Em que ele andará distante
Tal qual fantasma que vaga
Em certos morros uivantes.

QUANDO ELA PASSA

Quando ela passa ele se encolhe
Até parece que morre
E que medo tem o homem
Da mulher que lhe consome.

Alguns homens são assim
Corajoso e valentão
Briga de homem tem um fim
Com mulher o medo é “não”.

Esse cara ta roubado
Outro dia seguindo a gata
Descobriu seu namorado.

ALUCINADO

Trancado em algum quarto escuro,
A chorar,
Ainda ouço suas palavras.
É seu silêncio
Quem fala mais
Sobre a vida,
O momento em que você está curtindo,
Inconsciente,
Quando, logo em seguida
Se dá conta
E já não está mais vivendo.

PROSTITUTAS DO BEIJO

A coisa mais íntima que pode ocorrer entre duas pessoas é um beijo
Tanto é que as prostitutas não beijam.
Conseguimos invadir uma mulher com um membro,
Mas não roubar-lhe uma intimidade secreta,
Ou calor envolvente que existe em um beijo.

Tendências do futuro: Quem sabe não surjam um dia
Prostitutas que cobrem para beijar?
Seriam as prostitutas do beijo.

A LUTA NO TEMPO

Essa tristeza que eu sinto,
Essa dor,
Uma vontade de chorar, soluçar baixinho,
De se entregar para a morte,
Me diz que é preciso continuar vivo.
Que é preciso conquistar meu espaço,
E afastar o passado,
Antes que ele afaste meu presente.
Quando você me amava eu era livre.
Agora que me abandonou estou preso,
A você!

SER OU TER

Com o advento do consumismo
Quem não consegue ser
Pode começar a ter.

Pra que ter?
Pra ser o que não é!

MULHERES DE PROGRAMA

Mulheres de programa não são aquelas
Que fazem sexo com os homens cobrando
Mas aquelas
Que os vêem
Como meros programas.

UM POUCO AGRESSIVO

Eu gosto desse som!
Eu curto esse rock agressivo,
A fúria agressiva,
Da vida!

Vou sozinho, sigo sozinho
Por essa estrada de dor!

Violenta e agressiva é a vida que levamos
Recebo uma vida violenta
Cheia de fúria e rancor
O que você me tirou
Me deu
Coragem para berrar!
Força para gritar!
Não tenho medo!
Aahhh!!!
Vida violenta venha a mim!
Como a violência que impediu o nirvana
O mal que levou a legião
E a garota que jogou minha vida fora!

NOTAS MUSICAIS

Com a fúria e alta deprê
O metaleiro constrói uma teia de intensa viagem psicodélica.
De olhos bem fechados e dedos trêmulos,
Sua boca permite a passagem de um som
Que vem de um coração amargurado.
A guitarra acompanha em afinados gemidos o nostálgico som.
A platéia delirando sabe,
Que quem está ali no palco,
Não é uma pessoa e sim um espírito,
Que vaga.
Um covarde na vida,
Que na hora do show,
Cede para seu lado selvagem, desumano,
Que quer ser humano.
A música que ele produz tem vida própria
E é um fruto,
De seu desamor.

QUE ASSIM SEJA

Acham que sou louco, maluco,
Tanto faz!
Auto destruir-se pode ser muito prazeroso
Para quem já não sente mais nada.
Que cultivar a dor alheia, que nada!
Cultivo a minha própria e
Com mórbido prazer,
Quero ver onde isso vai dar.
Dizem que quem não vence o inimigo
Acaba juntando-se a ele
Pois tentem fazer algo comigo e garanto
Jamais conseguiram fazer mais do que eu!
Já que não tem solução,
Então que a solução seja esta!

QUANTO VALE UMA VIDA?

Quanto vale uma vida?
Vidas que se perdem no tempo
Devido a maus pensamentos
Meu tempo e vida se foram
Com a fúria de um beijo de adeus.

Pelas ruas, nos bares percorro,
Os corredores de uma vida vazia e fria
Que segue alimentando um amor extinto
Perdido nas coisas que minto
Até perceber aflito
Que sem você não existo.

Você que era meu tudo
Você que me ensinou a amar
Você que me deu à luz
Agora me deixa
Sozinho no mundo
Perdido no fundo
E se entrega a outro rapaz.

Minha vida que agora termina
Me lembro agora quem era
Moleque infantil de outrora
Desiste da vida que encara
E se joga infeliz no mar.

DESABAFO DE UM ASSASSINO

Minha mente atroz não permitirá
Que tirem minha máscara.
Com minha espada lutarei, pelo nada que tenho.
O mal que colhes hoje foi plantado por quem
Cultivou a dor alheia.
Fostes tu?
Sei lá, não interessa!
Já vais partir e não tenho nada a perder
Com cada morte que me acorre,
Um pouco de mim desperta,
Indiferente,
Não que eu morresse,
Tampouco vivesse, não, não!
Eu divago,
Eu vago!
Só, sempre só!

ESTAR VIVO OU MORTO QUAL A DIFERENÇA?

De um pulo súbito ele saltou da sepultura
Abandonou o túmulo e correu enérgico
Saiu assustando todo mundo, sem remorsos.
Sabia que estava morto, mas queria viver.
Foi então que tomou as ruas
E começou a gritar.
A harmonia de sua voz
Parecia uma música urbana,
Até que alguém parou diante dele e
Perguntou como ele estava,
Comentando como ele havia mudado
E que parecia bem.
Logo outra pessoa também se dirigiu a ele
Dizendo que nunca o tinha visto tão bem
Mas como isso?
De repente as pessoas começavam a ver que ele existia?
A falarem com ele?
Claro, ele nunca viveu antes.
Sempre se concentrando em outras vidas que não a sua
Seus heróis estavam todos mortos
Assim começou sua vida,
Aos vinte e poucos.

ASSASSINATO

Excluído, eu me detesto!
Imbuído de tal força
Vou cometer um assassinato,
Que aliás, é o meu próprio,
Mas não é suicídio,
Pois vou continuar vivo,
Apenas vou perder a vida!

VAZIO

O vazio me preenche,
Toma conta do meu corpo,
Me impulsiona pelo ar.
A lua me acompanha,
Sempre juntos mas distante,
Em seu mar ela me banha.

À VIDA

À quem indaga a vida,
Observa a vida,
Tenta encontrar a vida,
Ela não se dá em formas,
Também não são curvas, círculos,
Inútil, completamente inútil,
Perder tempo com suposições,
Ou tentar conhecer tantas formas,
Fossem fórmulas,
Também não!
Acredito, e isso me parece mais lógico,
Que quem conheço o abstrato,
Esse sim, conhece todas as formas.
Parece lógico, não?
Mas desde quando a vida tem lógica?

QUANDO ESTOU SÓ

I

Estou caminhando na multidão e me sinto só
As pessoas passam, vão!
Será que me vêem sem me olhar?
É tudo tão cinza, tão técnico
Então entro em um comércio e finalmente alguém me olha:
Estão me vigiando!
A frieza das pessoas me aquece
Como um cobertor gelado
Criando uma enorme e grossa redoma
Me fazendo nunca mais ser a mesma pessoa.

II

Estou em casa
Todos saem e fico só.
Credo!
Vou correndo para as ruas
Onde pelo menos a solidão é acompanhada.

III

Estou entre amigos que fiz hoje
E com vergonha de estar só
“A conversa ta bacana, mas vou indo,
Já ta tarde, e preciso ficar só!”

SENTIMENTOS

A angústia e a solidão
Fazem parte do roteiro
De um homem solitário
Em sua vida de solteiro.

Com o cabelo ao relento
Lança os olhos ao luar
De noite rumo às estrelas
De dia segue pro mar.

Nos arrabaldes dessa vida
Vai escrevendo sua mensagem
Com o suor dos pesadelos
Leva a vida sempre à margem.

ATENÇÃO

Quando alguém concorda
Com tudo o que você diz
Cuidado:
Pode não estar entendendo nada!

MULHER

Uma mulher ao nos atrair,
Primeiro é um mistério,
Depois uma obsessão.
Com a paixão e o prazer vem a rotina,
Então surge o tédio e distanciamento.
Voltamo-nos cada vez mais para si próprios,
E crescemos no mundo,
Sempre com sua ajuda,
Logo olhamos pra trás,
E nos damos conta
Do quanto ela é importante!

MEU DILEMA

Por que existem mulheres tão belas
Se não posso tê-las?
Posso sonhar em tê-las,
Mas é um sonho que não se concretiza
São sonhos molhados
Que causam um tremendo suor.
Eu as observo e tento descobrir
Qual o seu segredo?
Sua razão de ser?
Ostentam belos sorrisos,
Espalham olhares furtivos,
Mas ao menor sinal de babação,
Pisam em quem com elas se encanta.
Ah, as mulheres...
Se dizem tão sensíveis,
Mas na primeira oportunidade nos deixam chorando.
O homem segue sendo tão rejeitado,
Que quando um dia,
Finalmente é aceito,
Acaba a vida toda tentando dar o troco,
Mesmo quando já casado.

PROBLEMAS X PROBLEMAS

Creio serem duas as crises
Que afetam as pessoas em geral
A primeira é a existencial,
O homem e seus problemas pessoais.
A segunda, o mundo que o cerca,
Ou seja,
Problemas que pertencem a todos.
Os dois problemas vivem em confronto,
Tanto entre si,
Como com a integralidade do homem.
Mas um problema não anula o outro,
Hora sentimos mais um,
Hora outro.
Porém, no fundo os dois estão sempre juntos.
Impossível acreditar que um homem,
Que tem invejável auto-controle,
Mas que nunca fez uma auto-análise,
Seja realmente tão bem resolvido,
Parece mais uma farsa bem convincente.

EXISTENCIALISMO

Por precariedade de auto-estima
Muitos garotos e marmanjões
Mergulham de cabeça
Em um mundo deplorável e angustiante
Onde próximo ao clímax surge a tentação do suicídio.
Caminhamos sorrateiros, de luto e com música no coração.
Erguendo o estandarte da solidão,
Vamos manchando a história,
Com sangue pessoal e espalhando palavras
Poéticas e depressivas.
Alguns entram para a história
Outros apenas “enfeitam” o mundo.
Somos detestados pelos sorridentes de plantão,
E idolatrados pelos existencialistas,
Mas a vida é assim mesmo.
Uns vêem uma coisa,
Outros várias!

A VIDA QUE PENSEI

A vida que pensei é bem melhor que esta.
Muitos amigos e alegrias tive junto com as mulheres,
E que mulheres!
Sorridente e extrovertido,
Fui um homem admirado,
Invejado e idolatrado!
Todos queriam ser eu,
Até eu!
Lutei, venci!
Uma luta justa e humana pelos direitos do povo.
Amei, sorri,
Gozei com os amigos,
Tornei o mundo um pouquinho melhor.
Agora que já me conheces deves saber
Que a vida que pensei, não vivi,
Só pensei!

ESPELHO SEM FUNDO

Problemas psicológicos e existenciais
São os melhores amigos dos grandes pensadores
Sem eles não haveria motivo algum para alguém
Se trancar em um quarto escuro
Em frente a livros
E ficar indagando a vida e o mundo.
Toda vez que penso em meus problemas,
Em especial um,
E o quanto ele me incomoda,
Me sinto irado,
Revoltado e enérgico,
Pronto para lutar e ir mais longe.
Não importa onde já ceguei e o quanto já venci,
Mas sempre que paro, reflito e sinto
Que ele ainda está lá, eu penso:
Ainda posso ir mais longe,
Eu tenho que ir mais longe!
Assim, eu o venço,
Ou ele me vence.

GALHARDIA DUVIDOSA

Gustavo sai do trabalho e pensa:
É hoje, é hoje!
Sai com colegas e dá voltas pela rua.
Garoto há pouco casado,
E por isso atormentado,
Ele procura solução,
Para animar mais sua vida,
Sem perder sua paixão.
À noite com colegas,
Ele permeia pela cidade,
Esbaforido dessa vida,
Ele procura novidade
Porém, sua idoneidade,
Com aquela que lhe cuidou,
Compromete sua cognição,
De pretensas necessidades,
A respeito de ardor.
Abastado e jururu,
Ele volta para casa,
Arrependido da idéia,
De trair seu grande amor.

METAMORFOSE DE PERCURSO

Acho que eu era um rebelde ciente, sabia!
Violentava o mundo e espancava a vida,
Corria e voava, numa invejável energia,
Aparentemente sem fim, mas que esgotou,
Uma possível forma, de vida feliz.
Agora, cansado e sem graça,
O leão indomável de outrora,
Se transformou,
Em um singelo e opaco pássaro cinza,
De asas amputadas, talvez por ele próprio.
A vida, um cavalo sedutor e bravio,
Precisa de braço forte
Par ser domada
E ao menor sinal de fraqueza, ou ociosidade,
Ela se desvia completamente da rota planejada.
Deixando quem a comanda, ou tenta,
Muitas vezes a ermo
Em alguma ilha maldita.
Nossos piores pesadelos, surgem do desejo,
De não temos pesadelos.

OSTRACISMO E SÓ

A cidade, com suas luzes e cores, engana a todos,
Mas a mim não engana.
Estou entre muitos, porém sei que estou só.
É tudo tão lindo e cafona,
Que o fingimento até aumenta o enfeite.
Se me vejo e me saco, sei que estou triste e pobre,
Pois meu espírito já não viaja como antes e
Também estou sendo corrompido pela sociedade.
Como uma puta me vejo,
Sabendo que por meras moedas
Me desfaço de meus mais primordiais princípios,
Já não tenho princípios!
Agora sou carne e só!
Se sou triste, ou feio, e só;
Ou pobre e só;
Chato e só;
Ou “burro” e só, já não importa,
Pois posso me vender.
Tudo para comprar idéias prontas,
Verdades fabricadas,
E deixar de odiar todos aqueles que fingem
E mentem,
Para nunca ficarem só!
Mesmo sendo algo e só, sempre acreditamos
Que com jactância,
Estamos acompanhados por pessoas e olhares.
No entanto me parece que todas as pessoas
Que não ostentam
Aquilo que realmente são, nunca acabam só.

LUTAR É POUCO

Homens lutam por coisas que não podem ter.
Carros, máquinas e demais luxos,
São tudo maneiras tecnológicas de escravidão.
Criam um sistema de consumismo
Em que acreditam estar vencendo.
Lutam por igualdade econômica, quando se sabe
Que a economia, é baseada na desigualdade.
Os melhores prazeres da vida
Emanam das coisas simples
O amor, a amizade, o sexo e os bons momentos
Com pessoas que gostamos,
Vem sendo postos de lado
Para que se possa trabalhar cada vez mais
E ter um capital com maior capacidade
De abafar nossas angústias e depressões.
Criou-se a cultura da contra-cultura.
Essa cognição violenta é a forma mais absurda
De nos entorpecer
E nos afastar das coisas boas da vida.
Pare agora!
Largue tudo e vá dizer ao seu amor
Que você nunca o esqueceu,
Apenas havia sofrido um ataque
De ilusão coletiva, e partir de agora
Viva cada dia, como se fosse o último,
Um dia será!

COMO UM IN

Eram todos iguais
Quando alguns começaram a ser diferentes.
Tal foi o sucesso da “diferença”
Que hoje todo mundo quer ser diferente,
Incomum,
Todos querem fazer gênero,
Ficou tudo tão igual, que assim,
Hoje a única maneira de ser diferente,
É sendo comum.

SUBJETIVO PODER

Todos só falam em poder
Também queria ter poder
Um subjetivo poder
De me controlar
Falar menos quando falo bobagens
Evitar erros que cometo diariamente
Abortar meus desejos impuros
Eu quero, todos queremos
E tamanha dificuldade
Nos leva a ter
Um poder maligno
De causar o mal
De ser o mal
Quando tudo o queríamos
Era um subjetivo poder.

PRETENSOS TEMPOS

São tantas as saudades
Dessas coisas que não fiz
Que me atrapalho no tempo
Tempo esse, que não sei conjugá-lo
Pois tais coisas estão no passado.
Mas a nostalgia vem com o futuro.

O futuro não deve existir.
Toda vez que eu procuro o meu
Ele já está no passado.

VOCÊ LONGE

Álcool forte, dores fortes
Você longe
De onde vem tanta dor?

Tantas coisas que eu gostaria de te dizer
Tantas coisas que eu gostaria de fazer
O que ainda posso fazer?

Sozinho, sempre sozinho então
Já que sem você
Mas adiante!

Estou partindo agora
Abandonando tudo
Mas você sabe
Que nunca abandonaria
Você!